Estava eu conversando com a mãe de uma grande amiga, quando surgiram minhas lembranças dos tempos de Enfermeira. Demos muita risada com as aventuras. Ela sugeriu que eu escrevesse um livro com os relatos. Fiquei de pensar sobre o assunto. Enquanto não decido o que fazer, vou postar resumidamente algumas delas por aqui. Talvez, escritas, não soem tão bem quanto contadas verbalmente, mas, vamos tentar:
O décimo filho
Eu estava no terceiro ano de faculdade de Enfermagem. Estágio em Obstetrícia na Santa Casa de Santos. Na sala de pré-parto, aquela onde algumas futuras mamães gritam e outras gemem de dor, estava uma senhorinha para parir seu décimo filho. Nordestina. Devia ser baiana. Uma calma só. Eis que surge o glorioso residente. Estetoscópio pendurado no pescoço, pose de artista e cérebro de minhoca. Fez o exame de toque. Dá um sorriso "inteligente" e inicia o diálogo:
- Ê mãe, não vai nascer agora. Pode ficar tranquila.
- Dotô, vai nacê.
- Não vai não, mãe. Daqui a pouco eu volto.
- Mas dotô, tô falando pro senhô que vai nacê.
- Fica calma. Vai não. Eu já volto.
Sai o bonito pelo corredor afora. Cinco segundos depois, a mãe dá um gemido e eis que surge o rebento! Nasceu na cama! Um corre corre danado para pegar campos estéreis e amparar o bebê! Uma confusão danada. A mãe, tranquila. Uma das meninas corre para chamar o artista, ou melhor, o residente. Lá vem o esperto correndo como um doido pelo corredor afora!
Quando chegou no quarto estava ofegante, tremendo e com cara de idiota. A mãe nordestina, calma, mãe do décimo filho, olha para ele e diz:
- Eu não disse pro senhô que ia nacê?
Moral da história: Ouça o que seu paciente tem a lhe dizer. Ainda mais se já tiver nove filhos e estiver prestes a parir o décimo. Acho que ele teve vontade de se enforcar com o estetoscópio que estava no pescoço.
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Conheço algumas de suas histórias e concordo que um livro seria ótimo. Você contando é impagável, mas escrevendo tb vale.
ResponderExcluirTem o meu apoio!